Albany Castro Barros (*)
Em artigo publicado no Diário de Pernambuco, falei da origem greco-latina da palavra muristocracia, que significa o governo dos ratos para os ratos. Concitei o povo a reagir, organizar-se, cavar trincheira, visando combate aos muristocratas, pior espécie de políticos de que se tem notícia. Aos malandros, pela periculosidade que representam, não se deve dar trégua. Eles se comprazem em empobrecer os cidadãos, pelo roubo; levá-los a pobreza, à miséria. Sabem que a indigência amolece, degrada a coragem, conduz o homem a eterna paciência, à indiferença, à capacidade de insubordinar-se. Mas a sociedade já desperta contra a pestilência que assolou o país. Tem consciência de que, quando os maus políticos roubam o Tesouro, estão roubando todos os 200 milhões de habitantes do país. Por isso são piores que os bandidos comuns, que dirigem seus golpes contra uma única pessoa. Os muristocratas, de tão cínicos, não se comparam aos ladrões da Inglaterra do século 16, que roubavam para saciar a fome, e, mesmo assim, eram enforcados em grupos de vinte, conforme dá conta Thomas More, em Utopia. Estão longe do caráter e da sabedoria do rei de Macários, que jurou em sua coroação, como diz More, nunca ter no seu tesouro quantia superior a mil libras. Eles são insensatos, vaidosos de sua inteligência, das leis que criaram e criam para salvar a si próprio das garras da justiça, para blindá-los contra investigações policiais e processos judiciais. Protegem-se mutuamente, absolvem-se, quando flagrados em delito.
Eles são mesmo contumazes na corrupção, monstruosos, desprovidos de sentimento, animais sem alma. Nem lhes dói quando alguém morre por falta de atendimento médico, na porta de um hospital, ou de fome e frio, na noite a céu aberto. São mil vezes piores e mais desprovidos de ética que Abel Magwitch, personagem de Grandes Esperanças, obra de Charles Dickens. Magwitch doou a fortuna para fazer nobre e honrado o garoto Pip, que lhe ajudara a fugir da forca, rompendo com uma lima as correntes que lhe prendiam as pernas. Os ratos muristocráticos, ao contrário, deixam sem escolas milhões de crianças, em razão de seus atos. Sustentam-se na injustiça, na pilhagem, no confisco, na mentira, na perversidade. Para eles a dignidade dos governantes não está em governar homens livres, ricos, felizes, mas reinar sobre miseráveis, tolos, ignorantes, analfabetos. Os bandidos do Tesouro em nada se assemelham ao personagem Raskolnikov, do Dostoiévski, que assassinou as velhas porque grandes homens , generais, imperadores, também eram criminosos, também matavam inocentes. Os assaltantes do dinheiro público jamais terão a grandeza de Jean Valjean, ladrão humano, honrado, forjado na inteligência de Victor Hugo, injustamente condenado as galés por ter roubado um pão. Eles não tem limites. Enquanto toda a sorte de miséria acontecem às suas vítimas, cobre-se de diamantes e se consideram pequenos deuses. Arrogantes que são, não conhecem a alegria que tem o espírito na contemplação da verdade, da honradez, da justiça, das coisas simples. Eles se comprazem na ladroagem, na riqueza fácil, no estelionato político. Riem do homem pobre, honesto, que trabalha até 14 horas por dia para levar cidadania e dignidade à família. Os muristocratas brasileiros, por pertencerem a elite política, incentivam outros criminosos, os não blindados, na medida em que lhes servem de espelho.
Contribuem assim para o aumento da criminalidade e da insegurança. Que fazer diante de tanta covardia? Como combater esses inimigos da nação? Como salvar as vidas dos que estão a morrer por suas culpas? Como tornar respeitáveis as instituições públicas, se os ratos continuam fortes, desvairados, epidêmicos? Para livrar o País dos corruptos, faz-se necessária uma revolução ética, moral e cultural. Faz-se necessário o povo na rua, pacífico, ordenado, consciente, protestando, exigindo punição para a imensa legião de malfeitores. Faz-se necessário o engamento de todos os homens de bem, empresários, trabalhadores, sacerdotes, pastores, estudantes e, sobretudo dos miseráveis, desafortunados e injustiçados. Acorda povo brasileiro, as aves de rapina despertam cedo.
(*) - advogado e escritor revoltado com a roubalheira no Brasil
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