Um amigo mandou a menagem abaixo para a ouvidoria do CNJ. Eu copiei as palavras dele e mandei também, pois penso que o Judiciário precisa de um solavanco para se lembrar a quem ele deve servir. Se você quiser fazer o mesmo, clique aqui para ir à pagina da ouvidoria do CNJ.
Clique aqui para ler matéria no Estadão.
"Parabenizo a Excelentíssima Ministra Eliana Calmon, pela sua coragem, pela sua sinceridade e por empenhar-se em tentar eliminar o vício que toma conta de todos os mais altos agentes públicos de nosso País, em detrimento dos próprios poderes que representam, em detrimento da imagem do nosso País, no exterior, e, pior, em detrimento de sua obrigação de exercer suas atribuições constitucionais em defesa da moralidade, impessoalidade, publicidade, legalidade e economicidade. Infelizmente, o Judiciário não escapa a essa vilania. Espero que a Excelentíssima Ministra alcance pelo menos em parte seus objetivos e lastimo que os demais Ministros, seus pares no CNJ, ao invés de declaradamente apoiarem-na, tentem descaracterizar e até combatam suas tão lúcidas palavras e sua maravilhosa intenção."
(clique abaixo para continuar lendo).
APJ - Ministra, quais são as principais ações da senhora na Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça?
Eliana
Calmon - Desde que assumi em setembro do ano passado, tenho
entendimento de que a Corregedoria do CNJ não é para ter apenas função
disciplinar. A Corregedora também tem por função orientar, direcionar,
dirigir e facilitar a magistratura. Corregedoria é também corregência.
Tenho trabalhado nestas duas posições. De orientação, de desmanchar os
nós que se apresentam na condução da atividade jurisdicional e, ao mesmo
tempo, a questão disciplinar dos magistrados que estão, de alguma
forma, com algum problema no seu comportamento como julgador. Na questão
de orientar e direcionar, temos diversos programas. Cito como exemplo o
programa Justiça Plena, que nasceu a partir do interesse da Secretaria
de Direitos Humanos por força de processos que o Brasil estava
respondendo em cortes internacionais por estar transgredindo direitos
humanos aos quais tinha se comprometido em priorizar a realização.
Muitas dessas transgressões, indicadas pela Corte Internacional, é no
sentido de que os processos judiciais não estão andando. Como exemplo,
crimes cometidos por milícias ou crimes praticados na área rural, que
tiveram grande repercussão social, e que não andam. A partir daí que
pediram a interferência da Corregedoria do CNJ. Aí que criamos este
programa Justiça Plena e começamos a monitorar alguns processos que têm
interesse grande, têm relevância e importância social e alguns deles que
o Brasil tem interesse absoluto de resolver.
APJ – A Corregedoria do CNJ identifica os gargalos da Justiça e cria programas específicos para resolvê-los?
Eliana
- Inclusive na questão até política. Passei isto tudo para o presidente
do CNJ, que é o ministro Cezar Peluso. Ele deu todo o apoio e disse
vamos para imprensa dizer quem é o vilão da história. A partir daí, o
INSS pediu calma. Disse eu me rendo e vamos fazer parceria, vamos
resolver. Para os juizados especiais federais traçamos a meta
prioritária. Até dezembro, o INSS se comprometeu em cumprir todas as
sentenças transitadas em julgado, todos os acordos e todas as decisões
que o Supremo Tribunal Federal tomou em relevância. A meta 2 deste
programa é para resolvermos no segundo semestre, que são todos os
processos do Brasil que não dependem de decisões, mas sim de cálculos.
Cálculos para saber quanto é o valor de cada aposentadoria. Em seis
meses vamos resolver estes problemas. Traçamos metas e no cumprimento
dessas metas vamos tirando o inchaço da Justiça. São pessoas, como no
caso que citei do homem que esperava indenização há 40 anos, que nem tem
mais esperança na Justiça. É aí que o CNJ entra. Quero destacar outro
programa, que é o Pai Presente, para agilizar os processos de
reconhecimento de paternidade. Temos índice de 30% que reconhece
imediatamente quem é o pai, manda fazer o registro e elimina a
necessidade de processo judicial. De 40% a 50% os pais dizem que
reconhecem os filhos se for feito o exame e mandamos fazer. Fica
percentual pequeno depois da triagem, de 10% que dizem que só pagam se o
juiz mandar. E aí damos sequência ao processo.
APJ
- Na avaliação da senhora, quais são hoje os principais problemas do
Judiciário brasileiro e como o CNJ tem atuado para ajudar a
solucioná-los?
Eliana
- Acho que o problema do Judiciário brasileiro ainda é gestão, mas já
melhorou bastante. O CNJ veio para ensinar gestão ao poder Judiciário,
como é que se gere, e criar um padrão uniforme para todos os tribunais.
Antes do CNJ, nós tínhamos 27 tribunais estaduais que eram ilhas
isoladas, cuja informática não se comunicava porque os sistemas eram
incompatíveis. Hoje, estamos marchando para estabelecer uma só forma de
todos administrarem o precatório, uma só forma de todos terem o controle
interno, uma só forma de ter um sistema de servidores públicos. Assim,
vamos administrando esta parte, uniformizando e criando metas a serem
alcançadas.
APJ - Como o CNJ identifica os problemas e onde é preciso mais investimento para agilizar a Justiça?
Eliana
- Através de inspeções. Isso nós fazemos, é um trabalho constante.
Nossa equipe é muito pequena e nos ressentimos disto. Temos apenas 40
pessoas, contando com os juízes e comigo. Muito pouca gente, mas o que
vamos fazer? Inclusive, quando vamos para inspeção, começamos também a
fazer a triagem de problemas disciplinares. Magistrados que não estão
cumprindo seus deveres, processos que estão paralisados por vontade
própria e que estão guardados nas prateleiras, dentro dos armários.
Temos encontrado muitas coisas feias, que as corregedorias são incapazes
de tomar partido, muitas vezes por corporativismo e outras vezes porque
o plenário não dá guarida ao corregedor. O Órgão Especial não deixa ou
não tem quórum para condenar o juiz, muitas vezes por fatos gravíssimos.
APJ
- Pegando o exemplo de São Paulo, onde faltam prédios, juízes e
estrutura, como a senhora faz? A senhora cobra do governador mais
recursos para o Tribunal de Justiça?
Eliana
- Sabe que dia eu vou inspecionar São Paulo? No dia em que o sargento
Garcia prender o Zorro. É um Tribunal de Justiça fechado, refratário a
qualquer ação do CNJ e o presidente do Supremo Tribunal Federal é
paulista.
APJ - Como resolver isto? A senhora tem tentado?
Eliana
- Tenho sensibilizado e monitorado. Ficam dizendo assim sobre mim: ela
vem. De vez em quando, eu vou lá e faço uma visita de cortesia. É muito
difícil. Eu só posso fazer uma inspeção em São Paulo pontual. Por
exemplo, eu vou para as varas de execução penal ou para as varas de
recuperação judicial, onde existem muitos problemas. Mas fazer uma
inspeção geral não dá porque São Paulo é um monstro. Quando eu assumi a
corregedoria no ano passado, o ministro Gilmar Mendes me disse o
seguinte: se você não resolver o problema de São Paulo, você não resolve
nada. Porque São Paulo representa 60% dos processos ajuizados no
Brasil. Lá é hermético. Eles não informam para o CNJ os valores pagos
para os desembargadores. De qualquer forma, São Paulo tem uma coisa de
boa. São Paulo tem um órgão de controle dos juízes de primeiro grau
muito bom, com muita estrutura. Então, não me preocupo tanto. Há
corporativismo, há coisas equivocadas e tal, mas não me preocupo tanto. A
minha preocupação são tribunais que estão absolutamente sem controle,
inclusive na questão disciplinar. Bato muito nesta tecla. As
corregedorias estaduais não são capazes de cumprir seu papel. Não têm o
apoio necessário dos membros do tribunal, não têm estrutura adequada, o
corregedor muitas vezes não tem quadro de pessoal nem verba própria, as
corregedorias estão desestruturadas. E o que pior, as corregedorias não
têm continuidade. Como não têm quadros próprios, cada corregedor que
chega traz seu pessoal e está sempre começando. Então, minha luta hoje é
estabelecer quadros próprios para as corregedorias, de tal forma que os
servidores da corregedoria fiquem como servidores de corregedoria. E
que as corregedorias tenham orçamento próprio, para o corregedor saber o
que vai fazer e elaborar seus projetos. A corregedoria tem que ser um
órgão dissociado dos demais.
APJ - A senhora já conversou sobre isto com a presidente Dilma?
Eliana -
Com a presidente Dilma, não. Mas já conversei com os corregedores, com
os presidentes dos tribunais de justiça, que não querem naturalmente.
Mas vou levar este projeto para o Tribunal Pleno do CNJ para ver se
conseguimos impor esta situação aos tribunais de justiça.
APJ - Nas cidades do interior, há pequeno número de varas federais e de defensores públicos. Como melhorar esta situação?
Eliana
- Na Defensoria Pública, há déficit mas é uma luz no fim do túnel. São
Paulo foi o último estado a ter defensor público. Tinha de ser o
primeiro, o carro-chefe, pela estrutura que tem. Mas temos que ter um
pouco de paciência, porque não dá para ter tudo. A estrutura da
Defensoria Pública Federal está melhorando também.
APJ
- Apesar de já ter projetos atualmente em discussão no Congresso
Nacional, a modernização dos códigos Civil e Penal tem demorado para ser
implementada. Por que isto acontece e quais mudanças que estão em
discussão a senhora destaca como mais importantes?
Eliana -
Todo código é muito demorado. Quando se faz a lei, ele já está
defasado. Com a velocidade da vida, os códigos ficam envelhecidos. Acho
que as codificações pecam por interesses que nem sempre são da Justiça.
Acho que o processo penal brasileiro está em absoluta crise, porque tem
prevalecido teses jurídicas dos grandes escritórios de advocacia.
APJ - O que pode ser modernizado?
Eliana -
Primeiro, o Foro Especial. O tamanho dele é absurdo. Segundo, esta
plêiade de recursos. Ninguém aguenta mais. Hoje no Brasil, você tem
quatro instâncias. Até chegar à última instância, as pessoas já morreram
e não aguentam mais esperar. E
a corrupção dentro do poder Judiciário vem muito desta ideia. Na medida
em que você demora muito na Justiça, você começa a criar os atritos e
os problemas. Se for rápido, também dá ensejo a que exista menos
recursos e menos corrupção. A corrupção também existe porque o processo
demora tanto que neste interregno começa a haver uma série de
incidentes. A Justiça é muito entupida porque um conflito na sociedade
gera dez processos. Ninguém aguenta este grande número de recursos.
APJ
- Há atualmente uma enorme pressão para que o STF reduza as
competências do CNJ, proibindo-o de investigar e punir juízes acusados
de corrupção e ineficiência antes que as corregedorias do tribunais de
Justiça dos Estados façam este trabalho de apuração e julgamento. Por
que há esta pressão e como a senhora se posiciona?
Eliana -
Já disse e está em todos os jornais. Acho que isto é o primeiro caminho
para a impunidade da magistratura, que hoje está com gravíssimos
problemas de infiltração de bandidos que estão escondidos atrás da toga.
APJ - O CNJ tem enfrentado dificuldade para punir os casos de juízes e promotores acusados de corrupção? Por quê?
Eliana - Já começa a ter dificuldade.
APJ - Como eliminar estas dificuldades?
Eliana - A palavra está com o Supremo Tribunal Federal.
APJ
- O CNJ se dispôs a implantar nas cidades brasileiras varas específicas
da Lei Maria da Penha, que está completando cinco anos. Como está este
trabalho, quais cidades já foram beneficiadas e quais estão em processo
de instalação?
Eliana
- O CNJ está devagar nesta parte, mas na realidade temos todo
incentivo. Temos que deixar que os tribunais façam este trabalho. O CNJ
faz a conscientização da necessidade de serem criadas estas varas da Lei
Maria da Penha.
APJ - Como a senhora analisa os casos recorrentes de corrupção na política, principalmente no governo federal?
Eliana -
Estamos em uma intimidade indecente entre cadeia de poderosos e isto
tudo está acontecendo em razão de um esgarçamento ético muito grande.
Não existem culpados. A sociedade caminhou para este grande abismo e
hoje precisa resgatar isto. Está difícil resgatar porque na sociedade
capitalista o valor maior é o dinheiro. E as pessoas só entendem esta
linguagem. A linguagem moral e ética é uma linguagem fraca dentro de uma
sociedade de consumo. Mas chegamos a um estágio de tanto esgarçamento
que ou partimos para uma posição de radicalizar uma providência contra a
corrupção ou nós não vamos sobreviver como nação civilizada. Estamos
pagando muitos impostos e esses impostos estão indo pelo ralo. E uma
sociedade tranquila como a brasileira, uma sociedade meio anestesiada,
quase que já se banalizou a corrupção. Mas a sociedade já está mostrando
muita impaciência. Acredito que já estamos chegando ao fundo do poço e,
quando isto acontece, temos que partir para decisões muito drásticas. O
que não é bom para a democracia, mas às vezes é necessário.
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