Estão liberadas pelo Supremo piadas no rádio e na TV com candidatos e partidos em período eleitoral. Também foi suspenso outro inciso da Lei Eleitoral que proibia “difundir opinião favorável ou contrária a candidato, partido, coligação, a seus órgãos ou representantes”. Os juízes que estavam usando aquelas proibições, para mandar retirar vídeos no YouTube com sátiras a candidatos, terão a partir de agora de deixar a Internet em paz, o que é muito bom para a democracia.
Só para lembrar: no dia 23 de agosto, a Executiva Estadual do PSDB em Minas denunciou que Hélio Costa pedira a prisão do blogueiro Gabriel Sousa Marques de Azevedo, presidente do PSDB Jovem de Belo Horizonte, por ter divulgado no blog “Amigos do Anastasia” um vídeo que mostra um panfleto da CUT, distribuído nas eleições de 1990, em que Hélio Costa e Fernando Collor de Mello aparecem juntos.
Vamos poder agora, assim espero, saber o que tanto ofendeu o candidato do PMDB nesse vídeo. Estariam nus, na cama, em exercícios de Kama Sutra? Duvido, mas pela reação do candidato, era possível imaginar qualquer coisa sobre esse vídeo proibido. Certamente, não seria apenas o título do vídeo: “Hélio Costa: O novo ET de MG”.
O pedido de prisão foi revogado depois que o blogueiro retirou o vídeo do site e de o candidato ter alegado que não sabia que o pedido havia sido feito por seus advogados. Não parece história da China, com pitadas de Lula? Pelo andar da carruagem, talvez, um dia, estaríamos, por aqui, saudosos da democracia chinesa, apesar das recentes brigas dos mandarins com o Google…
Há dias, um sobrinho que tem um blog no interior de Minas me ligou querendo saber o que eu achava das eleições, tendo em vista as últimas pesquisas eleitorais. Confessei que não achava nada, pois me desinteressara da campanha eleitoral. Dava-me sono e engulhos assistir aos programas eleitorais gratuitos (nem tanto, porque nós, os pagadores de impostos, também pagamos por eles, mesmo que não nos informem disso) e aos debates entre os candidatos. Ontem, por exemplo, soube que houve debate na TV Bandeirantes entre os candidatos mineiros ao Senado, sem a presença de Aécio Neves, Itamar Franco e Fernando Pimentel. Quem terá assistido a isso?
Não apenas os candidatos não têm mensagem interessante a transmitir ao eleitor, como todos se parecem: são igualmente ruins. Vença quem vencer as eleições, já sabemos quem será o perdedor: o cidadão. Todos nós, que sequer podíamos nos vingar rindo desses candidatos imbecis, pois, até ontem, era proibido fazer piadas com eles no rádio, na televisão, na Internet. Muito menos, chamá-los de imbecis.
E nem sei se já posso. O jornal Folha de S. Paulo diz hoje que “em vários Estados, os juízes vão se reunir para discutir como proceder a partir de agora”. Vamos que em Minas eles decidam que continua proibido opinar sobre a inteligência dos candidatos!
De qualquer forma, ainda é cedo para dizer se a partir de agora a campanha eleitoral vai ficar mais interessante. O jornalista Luciano Martins Costa, do Observatório da Imprensa, escreveu hoje que certamente vai ficar mais engraçado ler jornais e assistir aos noticiários da televisão, uma vez que agora é permitido fazer “trucagem, montagem, ou outro recurso de áudio e vídeo que, de qualquer forma, degradem ou ridicularizem candidato, partido ou coligação”, conforme determinava o artigo suspenso. “Só não se pode afirmar que, com isso, a qualidade da imprensa brasileira venha a sofrer um impacto positivo. Vai ficar apenas mais coerente: os candidatos de quem a imprensa não gosta vão todos virar Tiriricas”, concluiu.
Como não estou gostando de nenhum deles, vou logo declarando: para mim, são todos Tiriricas.
(*) Jornalista.
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