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terça-feira, 19 de julho de 2011

Não se sinta obrigado a beber tanta água...

Para comemorar meus primeiros 50 anos,
fiz uma ultramaratona no Deserto do Saara.
Consumo de água: 2 a 3 litros por dia.
Entre as cinco ultramaratonas que corri, duas foram no Deserto do Saara, com extensão de 260 km pecorridos em 5 dias. Durante o dia a temperatura variava entre 45ºC e 55ºC. À noite caia para 5º C ou menos.

Correndo de 40 a 80 km por dia, sob tais temperaturas, quanto de água o ser humano precisa? A resposta correta é: depende. Depende da idade, do sexo, do tipo e da quantidade de comida, das vestimentas usadas. Mas, podemos dizer que, em média, em torno de 3 litros por dia.

Se um atleta de 50 anos, correndo sob o sol, precisa de cerca de 3 litros por dia, quanto de água precisará uma pessoa jovem, que passa o dia no escritório? A resposta surpreenderá a muitos: talvez um litro, talvez menos.

A resposta só surpreende porque estamos habituados a uma propaganda enganosa transformada em "verdade científica": aquela que diz que o ser humano precisa tomar ao menos dois litros de água por dia.

Na realidade, não existe nenhuma evidência científica de que esse seja o caso. Ao contrário, as evidências apontam que as necessidades costumam ser muito menores. Um litro ou menos. Isso acontece por dois motivos. O primeiro é que a necessidade tende a ser menor do que a propaganda diz. A segunda é que conta como água todos os líquidos já presentes na maioria dos alimentos. Arroz cozido, feijão cozido, legumes, frutas, chá, leite... tudo contém água. Muita água. O organismo usa essa água normalmente.

Se isso é verdade (e é!), então por que persiste a lenda de devemos tomar "pelo menos dois livros (oito copos) água por dia?

O principal motivo é que há uma indústria poderosa por trás dela. São os fabricantes de água engarrafada, "camel backs", e bebidas "repositoras de eletrólitos" (outra lenda!). Todos eles insistem na necessidade de grandes quantidades de água. Entretanto, estão apenas promovendo a venda dos seus produtos. Não estão interessados na saúde dos seus clientes.

Agora, a propaganda é de tal forma insistente, que também médicos, fisioterapeutas, nutricionistas e treinadores físicos acabam dando mais atenção à propaganda do que aos estudos científicos. Por isso repetem o que dizem os fabricantes. O que é também reconfortante para seus clientes, que compartilham essa mesma [des]informação.

Essa loucura pela "hidratação" chegou a tal ponto, que nas corridas de maratona e meia-maratona, há muito mais atleta desmaiando por excesso do que por falta de água. Isso mesmo: a falta de água provoca a desidratação, que reduz o desempenho do atleta. O excesso de água, porém, causa a  hiponatremia. Isso é, falta de sais no organismo. Com o excesso de água há uma perda acentuada de eletrólitos (sais de sódio e potássio). Com isso aparecem as cãibras, o coração fica irregular, vêm a náusea, confusão mental, fraqueza e até desmaios.

Mas, a preocupação com a  hidratação chegou a tal ponto de loucura, que muitas vezes o atleta com hiponatremia é tratado com... água. Exatamente aquilo que agravará a sua situação!

Recentemente alguns médicos têm tentado desbancar o mito dos dois litros de água por dia. Entretanto, a maioria das pessoas ainda prefere acreditar na propaganda do que nos estudos científicos.  Como esse, mencionado na matéria jornalística que reproduzo abaixo.

Recomendação de beber 2 litros de água por dia é falha, diz estudo (para ver a matéria original, clique aqui).


MARIANA VERSOLATO - DE SÃO PAULO
Deixe de lado a obrigação de beber oito copos de água por dia e a culpa que aparecer quando essa "missão" não for cumprida.
Segundo texto publicado ontem no "British Medical Journal", escrito pela médica Margaret McCartney, de Glasgow, na Escócia, o conselho de beber cerca de 2 litros de água por dia é "nonsense".
"Não há evidências científicas dos benefícios de beber quantidades grandes de água, mas o mito de que não bebemos água o suficiente tem vários defensores", diz.
Ela cita o site do National Health Institute (organização de saúde do Reino Unido), que recomenda ingerir de seis a oito copos de água por dia para evitar a desidratação, e organizações como a Hydration for Health, criada pela empresa Danone, fabricante de garrafas de água, que dão conselhos semelhantes.
Os únicos benefícios já provados da alta ingestão de água são dirigidos para pacientes que têm histórico de pedras nos rins, mas não há evidências suficientes de que o líquido possa impedir que elas apareçam em quem nunca teve o problema.
Fora isso, essa imposição corre o risco de ser até prejudicial porque pode causar deficiência de sódio no sangue e fazer as pessoas se sentirem culpadas por não beberem água o suficiente.
Daniel Rinaldi, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia, afirma que a ingestão de água deve estar relacionada à sede, como um mecanismo de reposição de líquidos do corpo.
"Nosso organismo se autorregula. Não há mesmo evidências de que as pessoas precisam beber 2 litros de água diariamente."
As exceções valem para crianças e idosos, que podem não sentir sede.
Regiões muito secas ou épocas com calor excessivo também pedem mais líquidos. Mas o nefrologista afirma que a água não é a única fonte de hidratação do corpo.
"Muitos alimentos têm água e podem suprir essa necessidade", afirma.

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