Desvio de dinheiro na prefeitura: conheça um exemplo em detalhes

Em 2006 o prefeito Haroldo Queiroz comprou 29 veículos financiados: 3 coletores de lixo, 3 caminhões basculantes, 1 caminhão de corroceria, 7 ônibus, 10 kombis, 1 Fiat Strada, 4 Fiat Uno. Pagou por eles R$ 4.724.000,00 quando deveria ter pago R$ 2.797.579,47. O restante foi embolsado pela quadrilha. Ou seja, R$ 1.926.420,53 de lucro para os corruptos e prejuízo para os bom-despachenses.

Como isso foi possível?

Em primeiro lugar, a quadrilha chamou o financiamento de "locação com doação". Ou seja, disfarçaram um financiamento sob o nome de "locação". Dessa forma as pessoas pensariam num aluguel mensal e não numa prestaçào de financiamento.

Em segundo lugar, colocaram no financiamento juros exorbitantes. de até 6,69% ao mês. Aí a quadrilha foi ao banco, financiou os veículos e repassou à prefeitura. Como lá pagaram juros bem mais baixos, eles embolsaram a diferença. Foi assim que Haroldo Queiroz repassou R$ 1.926.420,53 para a quadrilha e recebeu de volta uma propina de mais ou menos R$ 1 milhão.

Um exemplo real

Um dos veículos financiados foi uma caminhonete Fiat Strada ano 2005. Por ela o prefeito pagou 24 prestações de R$ 2.237,50, totalizando R$ 53.700,00. O preço desta caminhote, naquela ocasião, era R$ 30.328,00 (veja informação da FIPE, ao lado). Portanto, o prefeito pagou  R$ 23.372,00 de juros (que ele chama falsamente de aluguel!)

Foi desse juro que saiu a propina: uma parte para a quadrilha, outra parte para o prefeito Haroldo.Queiroz.

Se esse valor fosse financiado pelos bancos, ele seria muito menor. Por exemplo, ainda hoje – quando os juros estão mais altos do que em 2006 – o Itaú financia esse valor 24 parcelas R$ 1.703,23. Ou faz arrendamento mercantil em 24 parcelas de R$ 1.544,34. (veja simulação ao lado(*)).

O prejuízo, porém, é bem maior. Em primeiro lugar, porque as taxas de mercado da época eram menores (a SELIC subiu de lá para cá).Em segundo lugar, porque a prefeitura, quando deseja financiamento de veículos e equipamentos, não vai ao mercado consumidor, como um varejista qualquer. Ela vai aos bancos oficiais que têm programas para isso. Por exemplo, o BDMG financia caminhões, ônibus, máquinas e equipamentos com taxas de juros de 4% ao ano mais TJLP. Na época (2006), isso resultava em taxas de 0,92% ao mês.

A diferença entre o financiamento feito pela quadrilha e o financiamento que poderia ter sido nos bancos oficiais está demonstrada abaixo: um prejuízo de R$ 19.754,96 num único veículo Fiat Strada. Nos 29 veículos, o prefjuízo foi de R$ 1.926.420,53.

Os documentos que provam essas falcatruas serão apresentados à população, aos vereadores e à imprensa na próxima segunda-feira, dia 28 de março, às 19 horas, na Câmara Municipal.

(*)Na simulação do Banco Itaú foi usado o valor R$ 37.910,00 seguido do desconto de R$ 7.582,00 (entrada), o que levou ao valor financiado correto de R$ 30.328,00.
A planilha abaixo mostra como o veículo foi pago (lado direito) e como poderia ser pago, caso financiando com juros do BDMG (lado esquerdo). Para ter uma imagem melhor, clique AQUI para ver o arquivo em PDF.