A frase é antiga, mas carrega uma lição que a maioria não aprendeu: coisas miúdas podem fazer muita diferença.
A sala da OAB em Bom Despacho usa papel ofício na copiadora. Esse formato de papel é um desastre ambiental, um incômodo para a burocracia, um aborrecimento para os advogados. É também um atraso para a justiça, como mostra o caso abaixo.
É desastre ambiental porque na fábrica. O formato, por ser esdrúxulo, gera aparas que viram lixo. Isso porque o papel é produzido em folhas de 1m²com 841 x 1189 mm de lados. Nesse tamanho ela se chama A0. Dividida ao meio resulta em duas folhas A1 (594,5 x 841 mm). Assim, sempre divida ao meio, resulta nos tamanhos menores: A2, A3, A4... Dessa forma, nunca gera lixo. O papel ofício, porém, está fora do padrão. Não importa como o papel seja cortado, haverá tiras inúteis que vão para o lixo.
É um incômodo para a burocracia, porque os equipamentos não são feitos para ele: copiadoras, impressoras, fax, pastas, todos dão preferência ao formato A4. Incluem o papel ofício à força, porque alguns teimam em usá-lo. No final, são adaptações que encarecem a produção desses equipamentos de escritório e aumentam o trabalho da burocracia que tem que parar o trabalho para ajustar para um e outro formato.
É um aborrecimento para os advogados que – embora geralmente usem formato A4 – são obrigados a terem pastas que aceitam o formato ofício. Quando copiam um processo – ainda que originalmente produzido em A4 – acabam ficando com o formato mais comprido e mais trabalhoso de manusear.
O ser humano demora a mudar
A racionalidade do sistema série A (existem também as séries B e C) foi adotada oficialmente, na França, em 1798 (Revolução Francesa). Mesmo antes, elas já tinham uso na Alemanha (1786). Entretanto, até hoje não foram totalmente adotadas no Brasil. Provalmente por influência dos Estados Unidos e Canadá, cujo povo é lento na adoção de padrões: no papel ainda usam os tamanhos "carta", "legal", "executivo", assim como ainda usam milhas, polegadas, jardas...(*)
Isso mostra que o ser humano demora a mudar: a despeito de um padrão inventado há mais de duzentos anos, ainda continuamos usando formatos esdrúxulos.
O juiz que revoluciona por fazer o óbvio
O juiz Edinaldo Muniz, de Plácido de Castro, no Acre, cronometrou: o uso de papel ofício, em média, consome 13 segundos a mais cada vez que o servidor tem que manuseá-lo.
Parece pouco?
Numa vara em que se manipulem 2000 processos por dia a eliminação do papel ofício equivale ao trabalho de um servidor a mais, por mês.
É por isto que se diz que o diabo mora nos detalhes: nem sempre é necessário gastar milhões ou mudar as leis para acelerar a justiça. Muitas vezes basta racionalizar. (veja mais informações clicando aqui)
(*) O sistema métrico inglês é de uma irracionalidade absoluta. Para confundir ainda mais, medidas como toneladas, milhas, galão referem-se a quantidades diferentes conforme o país.
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