José Celso Azevedo Ribeiro (*)
Ei, você, irmão de fé
Meu senhor, minha senhora
Apenas peço licença
Pra contar a minha história
Vão chegando, vão sentando
Muita calma nesta hora
Era um bode bem lampeiro
Destas terras das gerais
Fazia tretas, mutretas
Passava todos pra trás
Enchia o bolso e a pança
Mas sempre queria mais.
Cometia erro primário
No intuito de faturar
Depois dava uma de vítima:
“Não me deixam trabalhar.
Desse jeito até eu perco
Meu pique pra governar.”
Esse bode liberal
Ficou rico sem vintém
Remexia a papelada
Pra cobrir quem paga bem
E carimbava APROVADO
Pois se pagou, que é que tem?
Aprovou bar sem banheiro
Liberou prédio na rua
Fez escolas nas pracinhas
Concreto pra gente sua
Deu casas pra os amigos
Parceiros na falcatrua
Com parceiros insuspeitos
Que sempre estão ao seu lado
Arma sempre um sujo esquema
Pra tentar ganhar dobrado
Mas isso é quando não passa
As noites no baralhado
E faz agrados pro povo
Que ri da própria desgraça
Afirma que é honesto
E seu aspone acha graça
E diz: eu compro essa gente
Com macarrão e cachaça.
Se perde 100 mil no jogo
Ele não se esquenta não
Contrata mais uma obra
Fraudando a licitação
E o empreiteiro coloca
Um agrado em sua mão.
E a turma lá de dentro
(eta turminha afinada)
Enche a pasta de papéis
Como foi orientada
E assinam: Licitação
Formalmente Homologada
E o bode, enriquecendo
Estava na santa paz
Com o povão iludido
Dizendo: Rouba mas faz
Mas de repente...Tragédia!
Se encontrou com o SANTANÁS
Pois nem tudo nesta vida
É como a gente planeja
Sempre há os empecilhos
Que tornam dura a peleja
Há coisas que nos perseguem
Onde quer que a gente esteja
Herói, vilão, todos têm
Quem lhes cutuca por trás
Se Sansão teve Dalila
Jesus... Judas e Caifás.
Napoleão? Waterloo...
E o bode? SANTANÁS!
Foi aí que o pau quebrou
Fumaça prá todo lado
O bode subiu nas telhas
Se dizendo injustiçado
Mas Santanás não deu trégua
Querendo tudo apurado.
Santanás veio chegando
Trazendo um jornal na mão
Mirou no bode e atirou
Sem dó, nem ré, sem perdão
Afirmando aos quatro ventos:
- ”Vou te botar na prisão”.
FOGO CRUZADO
(Diálogo entre o Bode e o Santanás)
BODE:
Eu renovei toda a frota
Pois só encontrei sucata
No pátio da prefeitura
SANTANÁS:
Deixe de contar bravata
Pois foi tudo pago em dobro
Na maior negociata
BODE:
Eu quero é gerar emprego
Pros nossos pais de família
Nem estou atrás de votos
SANTANÁS:
Foi mesmo uma maravilha
Emprego pra todo mundo
Pra esposa, genro e filha.
BODE:
Só criei duzentos cargos
Poderia criar mais
Para governar melhor
SANTANÁS:
Pra cidade andar pra trás
Como está acontecendo
Cem, duzentos, tanto faz!
BODE:
Eu tô lá na prefeitura
Pois fui eleito, mané
Pra fazer as “coisa errada”
SANTANÁS:
Eu vou ficar no seu pé
É melhor não dar mancada
Vá mamar num chimpanzé
BODE:
Quando manda chuva intensa
São Pedro não faz por mal
A chuva é que faz buracos
SANTANÁS:
Você é cara de pau
Fazendo o povo de bobo
Seu asfalto é Sonrisal.
BODE:
Fiz avenida vistosa
Onde era brejo e taboa
Melhorou o visual...
SANTANÁS:
É... Foi tudo numa boa
Enterrar nove milhões
Naquele “Corguinho” à toa
BODE:
Plantei árvores. Verdade!
Tá tudo plantado lá
E só não vê quem não quer...
SANTANÁS:
Plantou mesmo rá rá rá
Braquiária, vassourinha,
Tem até pé de juá!
BODE:
Você não me mete medo
Santanás, não tás com nada
Cadê sua CPI?
SANTANÁS:
CPI? Foi arquivada
Com os votos de cabresto
Da sua fiel bancada.
EPÍLOGO
(E nós, como ficamos?)
E assim continuou
Esse duelo verbal
Entre nossos personagens
E no fim, qual a moral?
O Bode seguindo em frente
Trabalhando pouco e mal.
Eu contei a minha história
Posso não ter agradado
Ao meu singelo leitor
Mas está tudo provado
documentos, depoimentos,
com tudo escrito ou gravado
A Justiça Federal
Também já foi avisada
T.C.U. e T.C.E.
Receberam a papelada
Agora é questão de tempo
E a quadrilha está lascada
Se o leitor tiver tempo
E se não tiver preguiça
Vá correndo lá no fórum.
Ta tudo lá na justiça
É o último recurso
Pra punir roubo e cobiça
E o povo? Só lhe resta
Ficar de boca calada
Só esperando a justiça
Cassação na Câmara? Nada!
A “maioria“ não deixa
Dá seis a três! Que barbada!
Por isso, só uma arma
O voto do eleitor
Pode acabar com o bando
Que nos rouba sem pudor.
Meu amigo, a peça chave
É O SEU VEREADOR
(*) Cordel publicado na página 6 (Coluna do Tadeu) do Jornal de Negócios de 26 de junho a 2 de julho.
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