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sábado, 22 de dezembro de 2012

A educação centrada nas pessoas

Antes de ontem (20/12) conversei com as profissionais da educação que assumirão a direção das escolas municipais de Bom Despacho. Na ocasião, falei-lhes sobre a necessidade de melhorarmos a educação na nossa cidade. Eu lhes disse que as pessoas são a pedra de toque dessa melhoria. A educação melhora porque as pessoas querem melhorará-la, e não porque a prefeitura compra mais computadores, ou lousas eletrônicas, ou material de ensino mais caro. No dia anterior a Veja havia publicado a entrevista abaixo que hoje chegou ao meu conhecimento. Qualquer pessoa interessada na educação teria muito a ganhar lendo  a entrevista que reproduzo abaixo.

A rede de escolas criada pelo americano Mike Feinberg é um enfático exemplo de como crianças pobres podem ir longe quando estão imersas em ambientes dominados por bons mestres e onde a meritocracia é levada às últimas consequências.(NATHÁLIA BUTTI, em artigo publicado na revista VEJA – edição 2300 – ano 45 – nº 51, de 19 de dezembro de 2012,  páginas 138 e 139).

Poucos na área da educação são capazes de reunir plateias tão entusiasmadas como o americano Mike Feinberg, 44 anos – um especialista em relações internacionais cuja opinião sobre o ensino é ouvida com atenção por autoridades dos mais diversos matizes e nacionalidades. Feinberg está à frente de uma das mais bem-sucedidas experiências recentes na sala de aula, as KIPP Schools – conjunto de mais de uma centena de escolas de período integral fincadas em áreas pobres de vinte estados americanos. Administradas com um misto de dinheiro público e privado (mas com verbas semelhantes às outras), elas mostram como é possível forjar a excelência mesmo em ambientes tão desprovidos de estímulos. Em recente passagem pelo Brasil, onde falou a especialistas no Instituto Fernand Braudel, em São Paulo, Feinberg deu a seguinte entrevista a VEJA:

A ESCOLA É A RESPONSÁVEL. Muitos profissionais do ensino caem na tentação de empurrar a culpa dos fracassos escolares para as famílias, alegando que elas não dão aos filhos os incentivos mais básicos. Mas não é realista esperar grande protagonismo de pais que, frequentemente, não têm tempo nem repertório intelectual para fazer mais do que já fazem. No lugar de terceirizar responsabilidades, esses educadores deveriam encará-las: se o aluno não evolui, eles precisam responder por isso. E um ambienta menos favorável não pode servir de álibi para a incompetência.

A LIÇÃO DO ESFORÇO. A maioria das crianças pode se tornar eficiente em qualquer atividade à qual dedique tempo e esforço. Se o objetivo é virar um ás do videogame, então devem se esmerar no videogame. Agora, se a meta é alcançar um patamar elevado em leitura ou matemática, não há outro caminho senão ler, ler e ler e resolver exercícios. A prática é fundamental. Não acredito que em um turno escolar curto demais seja possível lidar com a complexidade de tantas áreas do conhecimento. Acaba ficando tudo muito raso. Essa é uma clara desvantagem do Brasil em relação aos países mais desenvolvidos, onde as crianças passam até o dobro do tempo em sala de aula.

QUEM MERECE AVANÇA. O igualitarismo na escola pode soar simpático, mas tem o efeito perverso de não estimular ninguém a desprender-se da média. O esforço e o mérito do aluno não devem ser escamoteados, mas, sim, enfatizados, para que ele e os outros saibam que esse é o caminho acertado. Os professores que fazem sua classe progredir também merecem ser destacados, recebendo não só mais dinheiro, mas ainda, e principalmente, mais responsabilidade e desafios.

UMA VISÃO EMPRESARIAL. Quando os pais vão escolher a escola dos filhos, no lugar de priorizar uma infraestrutura vistosa, deveriam, isso sim, saber quem é o diretor e como ele age em prol do ensino. O diretor precisa ser, em certo sentido, como o gestor de uma empresa. Ele deve incentivar os quadros mais talentosos e ter pulso para se livrar dos menos eficazes. Demissão ainda é um tabu no meio educacional, mas os bons diretores, mesmo quando esbarram na burocracia do ensino público, encontram brechas para retirar de cena os que não funcionam.

O CORPORATIVISMO CONTRA A QUALIDADE. Os sindicatos erram quando saem em defesa dos maus profissionais e não do bom ensino. Acho curioso que existam mecanismos para impedir que os médicos e os advogados ruins atuem, mas não haja blindagem alguma contra os professores que difundem uma educação de baixo nível. Esse pendor corporativista é um incômodo obstáculo à qualidade.

DIVERSIDADE DE CABEÇAS. Venho do Teach for America, programa que coloca talentos em todas as áreas para dar aulas. Essa diversidade faz um enorme bem à escola. Eu mesmo não me especializei em educação, mas a sensação é de que é possível impactar tanta gente foi tão arrebatadora que nunca mais deixei esse meio. Sempre me perguntam: “Qual é a fórmula mágina das KIPP Schools?”. A resposta é tão simples que parece pueril. De um lado, reúno professores que dominam seu conteúdo e o ensinam de forma apaixonada; de outro, mantenho alunos imersos na escola em tempo integral. Em países como África do Sul, México e Índia já existem escolas que se baseiam nesses mesmos pilares, com sucesso. Por que não o Brasil?”.

6 comentários:

Quirino disse...

Artigo muito interessante da Veja!
-"De um lado reúno professores que dominam seu conteúdo e o ensinam de forma apaixonada e de outro, alunos imersos na escola em tempo integral". Aí está a chave para o sucesso na educação. Que seja implantado de imediato em Bom Despacho! Filosofia, métodos diferentes, novos estímulos, buscando sempre atingir o máximo, quero ver essa cidade alcaçando níveis elevados, alunos sendo premiados em olimpíadas, professores sendo reconhecidos por seus métodos diferentes de ensinar, enfim, que Bom Despacho apareça no cenário nacional por coisas positivas, ao contrário do que acontece agora!

Erika disse...

Me formei tem pouco tempo e foi isto que aprendi na faculdade, que o educador deve trabalhar com paixão e competência... Acredito e faço meu trabalho baseado nessa verdade!!!

Anônimo disse...

Bom,

Com respeito à matéria postada, Mike F. colocou os funcionamento das escolas parecido com o de fábricas. Parece o Taylorismo, Fordismo, Toytismo escolar. Algumas das suas ideias são válidas, mas há de se entender o seguinte: A EDUCAÇÃO SEMPRE SERÁ UM PROCESSO COMPLEXO e as mudanças devem ocorrer também fora do ambiente do escolar. Há a necessidade de mudar a mentalidade das pessoas, principalmente dos dirigentes sociais (políticos e demais autoridades) para com a população mais carente. Se não houver empregos, saúde, moradia, condições de vida digna para a população em geral; os problemas na educação pública jamais serão minimizados.

No caso de Bom Despacho é imprescindível que se tenha uma política social mais séria e compromissada com o povo. Como que uma criança que não tem o que comer em casa direito e vive sob condições paupérrimas irá conseguir aprender bem na escola.

A crise é institucionalizada e não pontual, restrita apenas ao ambiente escolar...

Anônimo disse...

Quando se quer critirar, até o óbvio se fala abundantemente para evitar enfrentar o problema. Há décadas que alimentação escolar foi introduzida nos Estados Unidos (imagino que em muitos outros países também). Em Bom Despacho, já na década de 50 havia merenda escolar (o Cel. tinha uma cantina que fornecia uma canjica famosa). O fornecimento obrigatório de merenda escolar, no Brasil, já está implantado há décadas. Portanto, essa pergunta retórica "como que uma criança que não tem o que comer casa direito e vive condições paupérrimas irá conseguir aprender na escola" é apenas isso: pergunta retórica. O maior problema da educação hoje se chama PROFESSOR DESQUALIFICADO. Ponto. Esse é também o mais difícil de atacar, porque esses professores desqualificados sempre empurram os problemas para fora da sala de aula: condições sociais, falta de comida, falta de apoio da família, material escolar inferior, autoridades que não apoiam. Ou seja, o problema NUNCA tem a ver com o professor. Entretanto, sabemos que, não raro, em duas salas lado a lado, numa os alunos aprendem, na outra os alunos não aprendem. Enquanto professores desqualificados continuarem jogando a culpa nos outros e arranjando desculpas para seu mau desempenho, não teremos solução.Sim, há problemas sociais a resolver. Mas se a solução não começar pela educação, então não teremos solução. Essa é uma lição que os educadores devem absorver.

Professor Hilario Nous disse...

Olá Fernando e demais leitores,

muito bom o artigo e os comentários. Na verdade, muito boa é a discussão que começa. Prefeito, há muito o que fazer antes de se investir dinheiro na educação, se queremos melhorar o ensino temos que começar... a estudar! Ao valorizar as idéias contidas neste artigo e levantar a discussão, o Prefeito está propondo na prática um grupo de estudos! Não poderia ser melhor começo. As pautas estão colocadas no artigo, vamos discuti-las uma a uma? Contem comigo para participar de um seminário com essa pauta, tenho alguma experiência (8 anos atuando na Prefeitura de Uberlândia), algo a ensinar e muito a aprender. Grande abraço e boas festas.

Professor Hilario Nous disse...

Fernando e demais leitores.
Muito bom o artigo e os comentários. Mas saúdo mesmo é a discussão que o prefeito levantou e que deve ser levada adiante. A pauta está dada nos itens do artigo. Se queremos melhorar a educação temos que estar dispostos a... estudar! É o que se propõe aqui. Contem comigo para um seminário onde poderemos contribuir com nossa experiência de oito anos na prefeitura de Uberlândia. O caminho é realmente o que foi apresentado: os problemas e as soluções na educação estão concentrados na figura do professor e é com ele que temos que trabalhar. Grande abraço e boas festas. Vivaldi.

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