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terça-feira, 7 de julho de 2009

Alegoria política

RUBEM ALVES explica para crianças como funciona a política brasileira:

No Brasil, são muitos os partidos que, no frigir dos ovos, se reduzem a dois: o das raposas e o das galinhas

IMAGINO QUE AS crianças devam ficar muito confusas com as notícias da política. Resolvi, então, preparar um pequena cartilha que as ajudará a entender essa coisa misteriosa que é o centro da vida nacional e que, por vezes, quando convém aparece e quando não convém, desaparece... 1. Somos uma democracia. A democracia é o melhor sistema político. É o melhor porque nele, ao contrário das ditaduras, é o povo que toma as decisões;
2. Em Atenas, berço da democracia, era fácil consultar a vontade do povo. Os cidadãos se reuniam numa praça e tomavam as decisões pelo voto. Mas no Brasil são milhares de cidades, espalhadas por milhares de quilômetros e os cidadãos são milhões. Não podemos fazer uma democracia como a de Atenas. Esse problema foi resolvido de forma engenhosa: os cidadãos, milhões, escolhem por meio de votos uns poucos que irão representá-los. O Congresso é a nossa Atenas...;
3. Os representantes do povo, eleitos pelos votos dos cidadãos -vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores, presidente-, são pessoas que abriram mão dos seus interesses e passaram a cuidar dos interesses do povo;
4. É assim que dizem as teorias. Na prática, não é bem assim...;
5. No Brasil, são muitos os partidos que, no frigir dos ovos, se reduzem a dois: o partido das raposas e o partido das galinhas;
6. As raposas, devotas de São Francisco, sabem que é dando que se recebe. Assim, movidas por esse ideal espiritual, elas dão milho para as galinhas...;
7. As galinhas acreditam nas boas intenções das raposas e tomam esse gesto de dar milho como expressão de amizade. A abundância do milho as faz confiar nas raposas. E, como expressão da sua confiança nascida do milho, elas elegem as raposas como suas representantes. Assim, na democracia brasileira, as raposas representam as galinhas;
8. Eleitas por voto democrático, às raposas é dado o direito de fazer as leis que regerão a vida das galinhas e das raposas...;
9. As leis que regem o comportamento das raposas não são as mesmas das galinhas. Sendo representantes do povo, precisam de proteção especial. Essa proteção tem o nome de "privilégios", isto é, leis que se aplicam só a elas;
10. Privilégio é assim: raposa julga galinha. Mas galinha não julga raposa. Raposa julga raposa. Logo, raposa absolve raposa;
11. "Todos os cidadãos são livres e têm o direito de exercer a sua liberdade." As galinhas são livres para serem vegetarianas e têm o direito de comer milho. As raposas são carnívoras e livres para comer galinhas;
12. A vontade das galinhas, ainda que de todas elas, não tem valia. Vontade de galinha solitária só serve para escolher suas representantes;
13. Permanece a sabedoria secular de Santo Agostinho, aqui em linguagem brasileira: "Tudo começa com uma quadrilha de tipos fora da lei, criminosos, ladrões, corruptos, doleiros, burladores do fisco, mafiosos, mentirosos, traficantes. Se essa quadrilha de criminosos se expande, aumenta em número, toma posse de lugares, de cargos, de ministérios, da presidência de empresas e fica poderosa ao ponto de dominar e intimidar os cidadãos -e estabelecendo suas leis sobre como repartir a corrupção-, ela deixa de ser chamada quadrilha e passa a ser chamada de Estado. Não por ter-se tornado justa, mas porque aos seus crimes se agregou a impunidade".
14.Portanto, galinhas do Brasil! Acordai! Uni-vos contra as raposas!

Ver a íntegra do texto em em www.rubemalves.com.br (rubema-alves@uol.com.br)

3 comentários:

Laurene disse...

KKK

Agora só falta Sarney indicar um cavalo para o senado, como o Calígula, não acha?

Fernando Cabral desmente... disse...

Incitatus? Já não temos um no palácio em frente ao Congresso?

Veja se há semelhanças: Incitatus tinha dúzia e meia de criados pessoais (devo dizer cavalais? Equinais?). Usava rico jaez de pedras preciosas e tinha autorização para usar mantas púrpuras (privativos do imperador).

Incitatus foi senador. Pouco faltou para ser cônsul.

Como se vê, já faz tempo que não é necessário título, conhecimento ou competência para ocupar certos cargos.

Anônimo disse...

Parabens pelo trabalho profícuo em fiscalizar o executivo com galhardia; pessoalmente, pela mídia escrita e cibernatica vem fazendo mostrar aos munípes Bondespachenses que os tempos são outros: Na atualidade em todos os recantos do planeta, todas as pessoas estão sendo de uma forma ou de outra compelidos a se governar pela ética e transparência. Aqueles que pensam o contrário se enveredam pelos cominhos do mal e dia menos dia são apanhados pela ratoeira da vida... Alguns, rapidamente e os mais espertos com o tempo: o grande senhor da verdade!
Que su lamparina de "DIOGENES" continue a iluminar o Poder Legislativo de Bom Despacho

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