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terça-feira, 20 de abril de 2010

A mãe do Arruda

    Político, quando é apanhado com a boca na botija tem duas coisas a dizer. A primeira, que não fez, que os jornais inventaram tudo. A segunda, que é pessoa temente a deus, que ama sua família, respeita sua mulher, e dá bom exemplo para os filhos.
    Quem não se lembra de quando Arruda violou o painel do Senado?
    Primeiro disse que era tudo mentira. Jurou por Deus, por sua mulher, por seus filhos. Disse que nunca havia nem visto a lista. Chorou e gritou em nome da honra.
    Depois, quando apareceram as provas, foi mudando seu discurso. No final, com a mesma cara sem-vergonha que negou, confessou a bandalheira.
    Anos depois ele se candidatou ao governo do Distrito Federal. Dizendo que Deus o havia perdoado, pediu o perdão do eleitor.
    Foi eleito!
    Três anos depois, a Polícia Federal descobriu que ele comandava uma roubalheira sem fim. Centenas de milhões de reais desviados.
    De novo, a culpa foi jogada na imprensa, nos inimigos políticos, na Polícia Federal. De novo, ele afirmou que a imprensa estava magoando sua família.
    Esse é o Arruda. Assim são os políticos corruptos e ladrões.
    Dias atrás Arruda saiu da cadeia e disse que ia visitar sua mãe, lá em Itajubá. Talvez tentar convencê-la repetindo o velho ramerrão: tudo não passou de intriga da imprensa, mentira da oposição, perseguição da Polícia Federal e erro dos Ministros do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal.
    Arruda não mudou. É o mesmo bandido canastrão de sempre. Mas nessas horas – todos sabemos – as mães fingem que acreditam. As mães são assim.
    Hoje me lembrei de tudo isso porque na reunião de quarta-feira (14/4) o prefeito de Bom Despacho insistiu, várias vezes, que é um homem de família, um homem temente a Deus e respeitador das leis. Quem fala mal dele é a imprensa, são os adversários.
    Disse até que Deus pode castigar os jornalistas e seus adversários. Talvez com uma cadeira de rodas – sugeriu ele.
    O prefeito falava e eu me lembrava do Arruda. Invés de jogar a culpa na imprensa, não seria melhor o Arruda pensar na mãe e em Deus antes de violar o painel?
    Não seria melhor ele pensar na sua família, em Deus e na sua mãe, antes de roubar o dinheiro público? Antes de fraudar licitação, antes de pedir propina?
    Ninguém duvida que a mãe do Arruda sofre muito. Ela deve se perguntar como isso foi acontecer. Afinal, ela deve ter ensinado a ele a não pegar a borracha do coleguinha; a devolver o brinquedo do vizinho, a não mentir. Ela deve ter ensinado a ele todas essas coisas boas e honestas que todas as mães boas e honestas ensinam a seus filhos.
    Mas quando os filhos degeneram, a culpa não é da imprensa, não é da Polícia, não é do Ministério Público. Também não é da mãe. A culpa é só do filho que não ouviu os conselhos dela.
    Ninguém sabe por que, mas alguns filhos degeneram assim. Não só fazem coisas erradas, mas envolvem sua própria família nos crimes. Muitos, por exemplo, colocam bens ilícitos no nome de parentes.
    Quando são finalmente apanhados – como o Arruda foi – arrastam o nome da família na lama. Mas a culpa é deles mesmos, não é da imprensa.
    Filho que pensa na tranquilidade da mãe não joga jogo de azar, não rouba, não mente. Tampouco coloca carros, motos e apartamentos em nome de irmão, cunhado, sogra.
    Ser honesto é a melhor forma de garantir a paz da família e a tranquilidade da mãe.

3 comentários:

Quirino disse...

Sensacional, Fernando!
A sutileza demonstrada na elaboração deste artigo demontra muito talento de sua parte!
Para quem sabe ler, um pingo é letra, já diziam meus antepassados.

Parabéns!

Maraco Quirino.

Clenio Araujo disse...

Bom texto mesmo. Pobres mães que devem ter cada desgosto com cada filho...
Clenio / Blog in (http://clenioaraujo.zip.net/)

Empório Bruxaria disse...

Ótimo texto!
Pode - se explicar que ao longo da vida desses bandidos, tiveram contato com outros bandidos e tudo tende a piorar... porém cabe lembrar que a escolha é do sujeito, as pessoas por natureza agem de forma ilícita tendem a colocar a culpa em alguém, mas ninguém obrigou a roubar, tudo foi responsabilidade por conta e risco do sujeito.

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