Na noite de ontem (14/12) o prefeito eleito Fernando Cabral discursou em nome dos diplomandos de Bom Despacho. A diplomação foi na sede do Lions Clube, às 20 horas da noite. Abaixo, o discurso na íntegra.
Ontem, embevecidos, tomamos conhecimento da homenagem que o Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais prestou ao ex-membro daquela Corte, juiz aposentado Fernando Humberto dos Santos, cuja presença entre nós temos a honra de registrar.
Naquela solenidade lembraram que Fernando Humberto começou sua ligação com a Justiça Eleitoral ainda bem jovem, quando foi mesário na eleição de outubro de 1960, que levou Jânio Quadros à Presidência da República.
As eleições de outubro de 1960, da qual Fernando Humberto participou, foi a última, antes da ditadura. A primeira de que participei, veio 29 anos depois, em 1989, quando os brasileiros ganharam novamente o direito de votar.
Naquele ano, estabeleci um vínculo próximo com a Justiça Eleitoral. Fui encarregado, por uma empresa de Brasília, a fazer uma contagem paralela dos votos para escolha do Presidente da República.
Essa contagem paralela fazia sentido. Apenas sete anos antes – em 1982 – a tristemente famosa Proconsult havia tentado fraudar a eleição em que Leonel Brizola concorria ao governo do Rio de Janeiro. Os candidatos à presidência não queriam correr risco igual.
A empreitada nos obrigou a catalogar, seção por seção, todos os pontos de votação do Brasil. Depois, tivemos que colocar em cada um deles, uma pessoa para coletar o resultado e transmitir para Brasília.
A mim coube a tarefa de criar a logística e entender o funcionamento da Justiça Eleitoral e estabelecer os canais de comunicação apropriados e que funcionassem na selva ou na cidade; no sertão ou no cerrado; na caatinga ou nos banhados; de dia ou de noite.
Debrucei-me sobre as tecnologias de comunicação existentes no Brasil de então e tornei-me um visitante assíduo do TSE.
Quando vieram as apurações, nossas noites insones foram recompensadas: terminamos a apuração dias antes do TSE. A própria Rede Globo, todo-poderosa, se instalou na nossa sala de apuração, em Brasília. Dali passou a transmitir os resultados e as previsões que fazíamos mediante simulações.
Não é sem orgulho que me lembro que eu e meu grupelho de meia dúzia de universitários principiantes, naquela ocasião, ganhamos de três gigantes: o Serpro, a Embratel e a Rede Globo.
Foi assim que aprendi como funcionava e evoluía a logística da Justiça Eleitoral.
Cinco anos depois, nas eleições presidenciais de 1994, juntamos forças com o TSE na primeira apuração eletrônica. Falo de apuração eletrônica, porque a votação ainda era manual. Os boletins de urna, porém, eram transmitidos para Brasília em sistemas semelhantes àqueles que havíamos usado cinco anos antes.
Para que essa transmissão acontecesse com segurança e integridade, precisávamos criptografar os dados e identificar univocamente cada juiz eleitoral. Para tanto, cada um deles recebeu uma maquininha parecida com uma pequena calculadora de bolso. Esse dispositivo era o gerador da senha que identificava cada juiz.
Pois bem, naquela eleição eu trabalhei na escolha dessa maquininha e sua configuração para uso no sistema. Trabalhei, também, na instalação do programa de computador que, em Brasília, a reconhecida e validava.
Dois anos depois, em 1996, as urnas eletrônicas foram usadas pela primeira vez no Brasil, atingindo algo em torno de 1/3 do eleitorado. Estava ultrapassada a fase pioneira da eleição eletrônica no Brasil. Eu segui meu caminho e me afastei do TSE.
Vemos, assim, que se o ex-juiz eleitoral Fernando Humberto, em 1960, participou como mesário da última eleição democrática antes da ditadura, em 1989 eu participei da primeira eleição universal depois daquela época tenebrosa. Participei como totalizador informal. Na eleição seguinte, em 1994, participei como consultor de informática.
Aquele jovem mesário que hoje se encontra entre nós fechou um ciclo da democracia eleitoral em 1960; eu, magro, descabelado e indormido, inaugurei outro em 1989.
Passadas tantas décadas de um e outro fato, estamos aqui nessa solenidade de diplomação. É apropriado, portanto, que eu destaque o trabalho de vanguarda e pioneirismo que a Justiça Eleitoral iniciou em 1986. Primeiro, com o recadastramento nacional de eleitores; em seguida, com a totalização eletrônica; depois, com a urna eletrônica; agora, com as urnas biométricas.
Foi um progresso notável.
Mas não devemos nos esquecer que a tecnologia, por si só, nada faz. Para que funcione e atinja seus fins, precisamos de seres humanos. São pessoas que fazem a tecnologia funcionar. E são pessoas que fazem a diferença.
Isso significa que nossa admiração pelas conquistas tecnológicas não deve ofuscar o encanto e o respeito que devemos às pessoas que fazem a Justiça Eleitoral caminhar. Por isso, aproveito esse momento para, em nome de todos os diplomandos, agradecer às pessoas que fizeram com que, em Bom Despacho, as eleições ocorressem da forma calma, ordeira e respeitosa.
Quero enaltecer o trabalho dos mesários, dos motoristas, dos fiscais. Quero enaltecer o trabalho da Política Militar, que atuou firme, mas com equilíbrio. Quero enaltecer o trabalho do Ilustríssimo Promotor Eleitoral, Giovani Avelar Vieira, e da Meritíssima Juíza Eleitoral, Sônia Helena Tavares de Azevedo.
Mas, de forma muito especial, quero enaltecer o trabalho dos serventuários do cartório eleitoral, Wellington Moura, Dagmar Caetano, Cátia Queiroz, Marcela Couto, Cláudia Azevedo. Essas pessoas, desumanamente premidas pelo tempo, constantemente assoberbadas pelo trabalho, e sempre pressionadas pelos candidatos, jamais saíram da linha, perderam o equilíbrio ou fizeram cara de desagrado. Realizaram um trabalho diligente, minucioso e proficiente.
Não conheço um só candidato que tenha se queixado deles, ainda que por um pequeno deslize que fosse.
Nós todos sabemos que não é fácil cumprir o dever se ofício sem desagradar a ninguém. Por isso lhes prestamos essa justíssima homenagem, representada por este reconhecimento público pela excelência do trabalho desenvolvido.
Quanto a nós, diplomandos, estamos aqui para cumprir a penúltima solenidade antes de assumirmos nossas obrigações perante nossa cidade e nossos eleitores.
Nossos desafios são grandes.
Bom Despacho é uma cidade endividada, com ruas esburacadas e estradas de trânsito difícil.
Na educação, os resultados não são lisonjeiros.
Na saúde temos o caos instalado e a população não sabe mais onde ou a quem recorrer.
Nossa legislação é ultrapassada e inadequada para garantirmos um desenvolvimento equilibrado e saudável para nossa cidade. Nem código de obras temos!
Porém, garanto que nossa responsabilidade perante a população, e nossa vontade de vencer desafios é muito maior do que os problemas.
Estamos todos cientes e ciosos de nossas obrigações e deveres.
Obrigação de resolvermos os problemas que nos afligem; obrigação de alcançarmos as metas propostas e realizar as esperanças que incorporamos.
Nas urnas nós nos submetemos à vontade e à esperança dos eleitores. A partir de primeiro de janeiro, nos submeteremos a seu julgamento.
Julgamento que será severo, tenhamos certeza.
Mas nós passaremos por ele com louvar se honrarmos nossos compromissos. E, para isso, precisamos unir nossos esforços. De um lado, o esforço dos vereadores, eleitos para legislar e fiscalizar. De outro lado, o esforço do prefeito, eleito para realizar as obras necessárias e introduzir as mudanças que todos exigem e esperam.
Trabalhando juntos, em prol da sociedade, nós chegaremos longe.
Por isso, conclamo todos os diplomandos para que, com independência, mas com harmonia, nos perfilemos diante de uma só bandeira, que é a bandeira de Bom Despacho; diante de um só partido, que é o partido de Bom Despacho; diante de um só propósito, que é realizar o bem de Bom Despacho.
É isso que o eleitor espera de nós.Sejamos, pois, o exemplo, o farol e o espelho.
Obrigado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário